Desinformação, negacionismo e COVID-19:
as disputas pela verdade
Palavras-chave:
COVID-19, NEGACIONISMO, VERDADEResumo
Introdução
O estudo a respeito das fake news na área da saúde e das ciências da natureza, desde que a OMS declarou a existência de uma infodemia, torna-se fundamental para que se discuta o impacto desse tipo de conteúdo na constituição dos conhecimentos e saberes científicos. O objetivo desse estudo, especificamente, se dá na identificação, na plataforma de mídia social Twitter, da relação entre informações falsas/desinformações e negacionismo, e como essas se vinculam às estratégias de interdição de discursos científicos de divulgadores de ciência, tendo como temática o kit covid. Portanto, a análise que se propõe, neste trabalho, é um debate acerca do conceito de verdade (FOUCAULT, 2002; HARAWAY, 1995). Para realizar essa análise, é importante que se compreenda que as fake news são ferramentas utilizadas para tendenciar a opinião pública com o intuito de interferir na estrutura de poder que vigora (FARKAS, J; SHOU, J., 2018).
Metodologia
Como marco metodológico, optou-se por realizar uma pesquisa de caráter qualitativo documental (FOUCAULT, 2002). Para coleta de dados, utilizou-se a própria ferramenta de busca avançada da plataforma Twitter em perfis das três principais contas de divulgação científica brasileira no Twitter durante a pandemia de COVID-19 (MEIRELLES, 2020). Os critérios (HERRING, 2004) selecionados para essa coleta foram: temática (COVID-19 e kit covid) e período (maio a julho de 2020). É importante ressaltar que a intenção do estudo é que se analise falas emblemáticas sobre a temática selecionada.
Resultados
Foram analisados um tweet de cada uma das três principais vozes da divulgação científica brasileira na temática coronavírus no Twitter e uma resposta com caráter negacionista à cada uma dessas falas, totalizando seis tweets. Pode-se identificar uma disputa pela verdade científica através da vontade de verdade (FOUCAULT, 2001), partindo da perspectiva de lugares de poder antagônicos: os cientistas, com o lugar do especialista, e os não cientistas localizados nesse trabalho, que reproduzem falas de instituições brasileiras sobre o kit covid. Os cientistas pautaram a verdade científica utilizando-se de material bibliográfico reconhecido pela academia, enquanto as falas de caráter negacionista utilizaram-se, por exemplo, de ferramentas de desinformação com referências de artigos científicos comprovadamente falsificáveis. Portanto, foi possível averiguar que as verdades são parcializadas (HARAWAY, 1995) e dependem tanto do momento em que se vive quanto da vontade de verdade de quem ocupa lugares de poder na sociedade (FOUCAULT, 2001).
Conclusões
Nesse estudo, foi possível visualizar a ideia de que as verdades são parcializadas, pois existem dependendo da vontade de verdade de quem ocupa lugares de poder. Ainda, pode-se verificar que as fake news autorizam o discurso negacionista, fazendo-o ser mais aceito e mais disseminado na sociedade.
Referências
FARKAS, J; SCHOU, J. Fake News as a Floating Signifier: Hegemony, Antagonism and the Politics of Falsehood. Javnost - The Public, v. 25, n. 3, p. 298-314, 2018.
FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Petrópolis: Vozes, Lisboa: Centro do Livro Brasileiro, 2002. 260p.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France,1971. 5. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001. 79 p.
HARAWAY, Donna. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos pagu, n. 5, p. 7-41, 1995.
HERRING, Susan C. Computer-mediated discourse analysis. Designing for virtual communities in the service of learning, p. 338-376, 2004.
MEIRELLES, P. Principais vozes da ciência no Twitter: Mapeando a conversa de cientistas e especialistas sobre a COVID-19. Relatório. IBPAD: Brasília, 2020.
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